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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

A MÔÇA DO CARNAVAL

MINHA amiga Lila Bôscoli, que faz com muita eficiência e graça a crônica feminina de Última Hora do Rio, telefonou outro dia para saber o que eu achava da mulher foliona. Ela se referia a essa que dança cantando, de braços abertos, no salão ou encima da mesa, nos bailes de carnaval. Pela maneira de Lila fazer a pergunta percebi que ela esperava que eu "pixasse" a foliona. Pois respondi com sinceridade: "adoro".
   Lila acha que há falta de linha e exibicionismo nessa maneira de brincar. Exibicionismo ou "se-mostração", como dizia Mário de Andrade,´há muito no carnaval; mas o que em outras ocasiões é ridículo e de mau-gôsto, no carnaval fica sendo engraçadoe bem. É próprio do espírito carnavalesco a pessoa perder o mêdo ao ridículo que a inibe o ano inteiro, se soltar, se espalhar, se exibir. Já reconheci muita môça bonita, de ar sério e recatado, que passa o ano inteiro cultivando o mito da própria alticez e no carnaval se veste de prata, de escrava ou de havaiana e se esbalda, sorrindo e rebolando para todos, cantando as letras maliciosas, saltando durante horas em volta do salão, em cima da cadeira ou da mesa.
   Sim, adoro a mulher fantasiada, porque a sua beleza ganha uma graça nova, ineperada, uma como que verdade superior, uma completação de sonho. Nunca vi mulher tão bonita como mulher bonita em carnaval; o instinto a leva a se despir e vestir com a sabedoria do jôgo de espaços e carne e de côres, ela põe a imaginação a serviço do esplendor e da graça de si mesma. Ah, é uma grande coisa, o carnaval!
   Impossível negar o que há de sensualismo e de malícia em um baile de carnaval; mas exatamente nas grandes folionas é que essa malícia e esse sensualismo atingem um grau de gratuidade e de pureza, se desligam do prazer individual para ser uma integração na música e na alegria de todos, ela não tem par, ou não dá ao par nenhuma importância especial,  ela goza o prazer de todos e de si mesma, ela se entrega ao ritmo com uma espécie de devoção. Essa sim, essa é quem brinca o carnaval, é quem lhe dá o encanto e o prestígio, a ilusão, a misteriosa grandeza humana que outra festa nenhuma tem.
   Viva a môça do carnaval, a que se entrega tôda, braços abertos para o alto, à sua magia e ao seu generoso fascínio, viva a môça que avança no fervor das noites acesas de fevereiro, princesa de lantejoulas imortais, guereira de joelhos incessantes, e graça imperecível - viva para sempre, no seu minuto feliz de esplendor e alegria, a môça do carnaval!
  

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