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sábado, 29 de setembro de 2012

Rita


NO MEIO da noite despertei sonhando com minha filha Rita. Eu a via nitidamente, na graça de seus 5 anos.

   Seus cabelos castanhos - a fita azul - , o nariz reto, correto, os olhos de água, o riso fino, engraçado, brusco...

   Depois de  um instante de seriedade; minha filha Rita encarando a vida sem mêdo, mas séria, com dignidade.

   Rita ouvindo música; vendo campos, mares, montanhas; ouvindo de seu pai o pouco, o nada que êle sabe das coisas, mas pegando dêle seu jeito de amar - sério, quieto, devagar.

   Eu lhe traria cajus amarelos e vermelhos, seus olhos brilhariam de prazer. Eu lhe ensinaria a palavra cica, e também a amar os bichos tristes, a anta e a pequena cotia; e o córrego; e a nuvem tangida pela viração.

   Minha filha Rita em meu sonho me sorria - com pêna deste pai, que nuca a teve.

 

Rubem Braga - Janeiro, 1955