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sábado, 23 de fevereiro de 2013

Paulo Leminski

SUJEITO INDIRETO  



   Quem dera eu achasse um jeito
de fazer tudo perfeito,
   feito a coisa fosse o projeto
e tudo já nascesse satisfeito.
   Quem dera eu visse o outro lado,
o lado de lá, lado meio,
   onde o triângulo é quadrado
e o torto parece direito.
   Quem dera um ângulo reto.
Já começo a ficar cheio
   de não saber quando eu falto,
de ser, mim, indereto sujeito.

* * *
 
en la lucha de clases
todas las armas son buenas
piedras
noches
poemas
 
* * *
 
   para que leda me leia
precisa papel de seda
   precisa pedra e areia
para que leia me leda
 
   precisa lenda e certeza
precisa ser e sereia
   para que apenas me veja
 
   pena que seja leda
quem quer você que me leia



terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Do livro Carnaval de Manoel Bandeira:

BACANAL


Quero beber! cantar asneiras
No esto brutal das bebedeiras
Que tudo emborca e faz em caco...
          Evoé Baco!

Lá se me parte a alma levada
No torvelim da mascarada,
A gargalhar em doudo assomo...
          Evoé Momo!

Lacem-na toda, multicores,
As serpentinas dos amores,
Cobras de lívidos venenos...
          Evoé Vênus!

Se perguntarem: Que mais queres,
Além de versos e mulheres?...
-Vinhos!... o vinho que é o meu fraco!...
          Evoé Baco

O alfange rútilo da lua,
Por degolar a nuca nua
Que me alucina e que eu não domo!...
          Evoé Momo!

A Lira etérea, a grande Lira!...
Por que eu extático desfira
Em seu louvor versos obscenos,
          Evoé Vênus!

PIERRETTE 


O relento hiperestesia
O ritmo tardo de meu sangue.
Sinto correr-me a espinha langue
Um calefrio de histeria...

Gemem ondinas nos repuxos
Das fontes. Faunos aparecem.
E as salamandras desfalecem
Nas sarças, nos braços dos bruxos.

Corro à floresta: entre miríades
De vaga-lumes, junto aos troncos,
Gênios caprípedes e broncos
Estupram virgens hamadríades.

Ergo os  olhos súplices: e vejo,
Ante as minhas pupilas tontas, 
No sete-estrelo as sete pontas
De sete espadas do desejo.

O sexo obsidente alucina
A minha índole surpresa:
As  imagens da natureza
São um delírio de morfina.

A minha carne complicada
Espreita, em voluptuoso ardil,
Alguém que tenha a alma sutil,
Decadente, degenerada!

E a lua verte como uma âmbula
O filtro erótico que assombra...
Vem, meu Pierrot, ó minha sombra
Cocainômana e noctâmbula!...