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quinta-feira, 17 de novembro de 2011
quarta-feira, 2 de novembro de 2011
OS POBRES HOMENS RICOS
UM AMIGO meu estava
ofendido porque um jornal o chamou de boa-vida. Vejam que país, que tempo, que
situação! A vida deveria ser boa para toda gente; o que é insultoso é que ela o
seja apenas para alguns.
"Dinheiro é
a coisa mais importante do mundo ." Quem escreveu isso não foi nenhum de
nossos agiotas. Foi um homem que a vida
inteira viveu de trabalho, e se chamava Bernard Shaw. Não era um cínico, um
homem de vigorosa fé social, que passou a vida lutando, a seu modo, para tornar
melhor a sociedade em que vivia - e em certa medida o conseguiu. Ele nos fala
de alguns homens ricos:
"Homens
ricos ou aristocratas com um desenvolvido senso de vida - homens como Ruskin,
William Morris, Kroptkin - têm enormes apetites sociais... não se contentam com
belas casas, querem belas cidades... não se contentam com esposas cheias de
diamantes e filhas em flor; queixam-se porque a operária está mal vestida, a
lavadeira cheira a gim, a costureira é anêmica, e porque todo homem que
encontram não é um amigo e toda mulher não é um romance... sofrem com a
arquitetura da casa do vizinho..."
Esse
"apetite social" é raríssimo entre os nossos homens ricos; a não ser
que "social" seja tomado no sentido de "mundano". E nossos
homens de governo têm a pasmosa desambição de governar.
Vi, há tempos, um
conhecido meu, que se tornou muito rico, sofrer horrorosamente na hora de
comprar um quadro. Achava o quadro uma beleza, mas como o pintor pedia tantos
contos ele se perguntava, e me perguntava, e perguntava a todo mundo se o
quadro "valia"mesmo aquilo, se o artista não estaria pedindo aquele
preço por sabê-lo rico, se não seria "mais negócio" comprar um quadro
de fulano. Fiquei com pena dele, embora saiba que em uma noite de jantar e
boate ele gaste tranquilamente aquela importância, sem que isso lhe dê nenhum
prazer especial. Fiquei com pena porque realmente ele gostava do quadro, queria
tê-lo, mas o prazer que poderia ter obtendo uma coisa ambicionada era estragado
pela preocupação do negócio. Se não fosse pelo pintor, que precisava de
dinheiro, eu o aconselharia a não comprar.
Homens públicos
sem sentimento público, homens ricos que são, no fundo, pobres-diabos - que não
descobriram que a grande vantagem real de ter dinheiro é não ter de pensar, a
todo momento, em dinheiro...
Rubem Braga
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