São Romão
Minas Gerais - MG
Histórico
Com a descoberta do ouro, de tal maneira se intensificou o trafego fluvial de São Francisco,
conduzindo o metal à Bahia e de lá trazendo viveres e outras mercadorias, que aquela via fluvial
assumiu importância definitiva; ao mesmo tempo, um sem número de elementos desgarrados de
antigas bandeiras, de foragidos da justiça de todo o Brasil e Portugal, de índios nômades ou
aldeados, de escravos fugidos, infestavam as margens do grande rio, assaltando caravanas,
contrabandeando ouro etc. Tal estado de cousas exigia corretivo pronto e foi para tentar um
policiamento efetivo e fiscalizador que Januário Cardoso, sobrinho de Matias Cardoso, foi
destacado.
Com esse intuito, foi ele para Morrinhos com o primeiro objetivo de dominar a aldeia das
Guaíbas, situada numa ilha que dividia o grande rio em dois braços. Para tanto, ordenou a seu
sobrinho Manoel Francisco Toledo que conquistasse a ilha ocupada pelos Caiapós, levando como
guia o português Manoel Pires Maciel. Desfechado o combate, a luta desencadeou-se ferocíssima,
pelejando-se de sol a sol, com extermínio quase total dos índios. Celebrando a vitória que se deu a
23 de outubro, batizou-se a ilha com o nome do Santo do dia, São Romão, designativo que perdura
até hoje. Com os remanescentes reduzidos à escravidão, foi fundado o arraial na margem fronteira
e ocidental, sob a invocação de Santo Antônio do Manga, mais tarde Julgado de São Francisco
(1719).
Em 1736, foi São Romão teatro da primeira ação de um movimento de revolta contra as
autoridades da metrópole portuguesa que vinha, através de seus prepostos, sugando a economia
regional, a pretexto de captação de tributos cada vez mis pesados. O movimento, que os reinóis
tentaram esconder menosprezando com a depreciativa denominação de “Motins do Sertão”, foi em
realidade um movimento de profunda raízes, com plano pré-estabelecido para uma explosão
definitiva. A impaciência de um Padre, Antônio Mendes Santiago, invadindo a vila de São Romão
e denominando-a antes do sinal dado por outros cabeças, determinou a perda de todos os esforços
libertários, com a consequente perseguição a muitos naturais e proprietários da região.
Curioso foi o filho daquele português, Manoel Pires Maciel – que guiara os comandos que
dizimaram os Caiapós da ilha de São Romão – agora grande senhor de terras (as terras que o pai
roubara aos índios), tomar as dores pelo régio poder e contra atacar, derrotando o Padre Antônio
Mendes Santiago; foi, por sua vez, derrotado, dias depois, por uma força nativa comandada por
Pedro Cardoso. Ao ensejo desta segunda acometida, o filho de Manoel Pires Maciel fugiu. De
posse do arraial, os revoltosos formaram uma espécie de governo provisório, nomeando-se
secretários de estado e demais autoridades, como juízes de julgado, etc.
Como houvesse abusos disciplinares constantes, por parte dos revoltosos, muitos
julgamentos foram feitos, sendo aplicada inclusive a pena capital aos que abusaram do direito de
conquista, desvirtuando a campanha libertadora. O plano geral do levante determinava que o
distrito de ouros, ou seja, a região do rio das Velhas e do Sabarubuçu, se juntaria aos revoltosos
assim que dominado o sertão do São Francisco. O Governo da Província, depois de muito sangue,
muita perseguição, dominou o movimento que reservou a São Romão um lugar de destaque e de
honra na história de Minas.
Em 1831, a 13 de outubro, foi o arraial elevado à categoria de vila e recebeu o nome um
tanto contraditório para tal passado de lutas: Vila Risonha de Santo Antônio da Manga de São
Romão. Daí para diante, a comuna viveu mais calmamente e deixou de ser o centro de importância
de outrora, mesmo pela aparição de outras comunas, pelo desenvolvimento de outras vilas de
acesso, pelo deslocamento do comércio mineiro para o Rio, etc.
Gentílico: são-romano